A culpa da destruição não é do meteorito
Oi, pessu! Aqui é a Dé. Na primeira vez que fui ao Rio de Janeiro, com nove anos, tive a oportunidade de visitar o Museu Nacional com as minhas irmãs e meus pais. Tiramos fotos com o meteorito Bendegó, um dos pouquíssimos itens que resistiu ao incêndio que extinguiu um acervo de 20 milhões de peças, incluindo documentos do Império, artefatos greco-romanos, fósseis e a maior coleção egípcia da América Latina.Foi uma série de fatos até o colapso total. Desde o descaso do governo, má gestão, e até mesmo a falta de água nos hidrantes próximos ao edifício. O bombeiro até vem, mas não consegue apagar o fogo. O buraco é mais embaixo.Logo, questiono: para onde devemos caminhar e como cuidar do outros patrimônios?
1. Gestão e Captação de Recursos
Ao fazer uma breve análise das alternativas de captação de recursos de outras universidades e órgãos públicos, é possível ver que muitos utilizam a economia criativa para criar parceiras, desenvolver projetos colaborativos e desenhar estratégias para atrair o público. Uma das ideias é, além das atrações fixas, promover exposições temporárias com novidades, eventos educacionais, etc. Grande parte dos recursos dos museus no Japão, Europa e Estados Unidos vem de ingressos desses eventos únicos, que ajudam nas despesas para a manutenção básica.O preço pode ser diferenciado para nativos, estudantes e turistas. Alguns lugares dão a opção de “não obrigatório” e livre para quem quer e pode fazer uma contribuição além do valor do ingresso. E isso nada tem a ver com privatização total e sim com alternativas para as despesas básicas.
2. Incentivo
Muitos acreditam que valorizam a arte, mas não do seu próprio país. Precisamos investir no incentivo à cultura e educação em todas as camadas da sociedade. Criar programações de visitações de escolas e universidades, fazer parcerias com hotéis e a rede de turismo, além de trabalhar estratégias de comunicação. Contribuições e arrecadações por meio de crowdfunding também são de grande valia.
3. Imagem e marca
Toda organização precisa trabalhar sua imagem. Uma forma barata de fazer isso é por meio das redes sociais. Os museus e instituições de ensino precisam enxergar as novas mídias como uma oportunidade de promoção do espaço e incentivo à visitação e ao compartilhamento da arte pela arte.O Museu de arte moderna de Nova Iorque investe no branding e posicionamento digital. Possui 3,8 milhões de seguidores apenas no seu perfil do Instagram.
4. Integração e Multidisciplinaridade
Fico imaginando quantos projetos incríveis poderiam acontecer se as organizações fossem mais integradas. Principalmente se buscassem o apoio dos próprios estudantes das universidades.Alunos poderiam ter seus trabalhos direcionados para solucionar problemas reais. Por exemplo: o museu apresenta seus problemas e os alunos de diversas disciplinas podem se unir para desenvolver projetos com soluções viáveis.Várias áreas podem estar envolvidas nos projetos, tais como: arquitetura, design, artes, conservação e restauração, ciências biológicas, comunicação social, geologia, gestão pública, história da arte e música.
Essa é a essência da multidisciplinaridade: envolver pessoas de inteligências diferentes para fazer surgir soluções criativas.
A UFRJ precisa pensar em uma nova atuação com o Canecão, por exemplo. Ele possui grande potencial e precisa, urgentemente, de cuidados. Uma ação integrada pode render muito para a universidade, seus estudantes e a sociedade como um todo.
5. Realidade virtual e Backup
Todo museu precisa ter um backup virtual, ou seja, as pesquisas e dados não podem ficar armazenados apenas nos computadores em um espaço físico. Se qualquer coisa acontecer, perdemos tudo. Foi o que ocorreu com o Museu Nacional e mais de 200 anos de história em ruínas.Por isso, penso que precisamos utilizar as tecnologias para ajudar na preservação histórica a partir do armazenamento na nuvem.Uma outra ideia é explorar mais a realidade virtual (VR). Ainda que as experiências virtuais não sejam iguais às reais, elas tornam as visitas acessíveis a mais pessoas. Assim, todo mundo poderá conhecer lugares que talvez não sejam tão acessíveis de outra forma. Mesmo que em um ambiente virtual.Pessoas do mundo todo poderão sentir como se realmente estivessem andando pelos corredores dos museus mais importantes do mundo. Seria possível, também, cobrar um “ingresso virtual”. Outra forma é utilizar as tecnologias para promover exposições temporárias, como o evento Dinos no Brasil, em parceria com a Catavento Cultural, Intel e uma startup. De novo, a economia criativa em ação. Um bom exemplo é o Van Gogh Museum, que estabeleceu uma parceria com o Google Artes e Cultura para proporcionar as visitas às obras do museu em VR. Depois de refletir todas as possibilidades que estão disponíveis para preservar nossa arte e nossa experiência cultural, ao voltarmos nossa atenção ao meteorito, percebemos que, dessa vez, ele não foi o responsável pelas chamas e destruição. Foi sobrevivente.